No
texto em questão abordaremos algumas questões sobre a hipótese da “Espiral do
Silêncio”. A análise dessa hipótese será feita a partir do medo que alguns
indivíduos têm de estarem solitários em seus comportamentos e opiniões. Esse
silêncio é possível, pois as pessoas têm todos os recursos para saberem e
conhecerem qual é a opinião dominante, sendo essa, na maioria das vezes
determinada pelos meios de comunicação. Com isso, é possível que haja uma
tendência ao silêncio, pois o indivíduo, por medo de isolamento opta por não
manifestar sua opinião quando ela é minoritária.Nesse mesmo contexto, a ideia
de espiral busca deixar claro a dimensão progressiva da tendência ao silêncio.
Quando alguns indivíduos discordam de uma opinião, e se calam devido ao fato de
suas opiniões serem minoritária, a tendência é que a opinião que já era
minoritária se torne ainda mais minoritária, e com isso a inclinação ao
silêncio será ainda maior. E, os que insistem em dar suas opiniões mesmo que
elas sejam minoritárias, se encontrarão isolados, não encontrando quem lhes
apoie.
Um
dos requisitos para que exista a “espiral do silêncio” é a abordagem dos mesmos
fatos através de diferentes meios de comunicação.A ideia central dessa hipótese,
como já vimos, se trata de um acontecimento que dá aos meios de comunicação uma
prerrogativa de construção e determinação da opinião que se deve ter sobre os
fatos. A “espiral do silêncio” não se limita a apontar uma coincidência
temática entre a mídia e o público, mas se desvia da hipótese de que os meios
de comunicação se limitam a impor assuntos sobre os quais se deve falar, mas
determina o que falar sobre esses assuntos também.
Assim,
é necessário que exista uma opinião dominante para que o processo da espiral
possa crescer. Da mesma forma, é necessário que haja o medo de isolamento por
meio dos indivíduos que discordam da opinião dominante, e é preciso que esses
indivíduos também conheçam a opinião dominantes, para que dessa forma, possam
afrontá-la com a própria opinião. No entanto, conhecer a opinião dominante é o
ponto central dessa hipótese, mas talvez, o mais difícil.
O
estudioso Habermas analisa a existência de uma dupla conotação, são elas: a
opinião como ponto de vista, sendo essa sem a comprovação da verdade, e a
opinião como reputação, sendo essa mutável por um grupo. Outros sociólogos como
Stoetzel, afirmam que “a opinião pública
é uma expressão da linguagem vulgar, e não é seguro que corresponda a alguma
realidade cuja estrutura se possa definir ou cujas fronteiras se possa delimitar.
” Já Bourdieu afirma que as sondagens de opinião partem de três processos,
sendo eles: o fato de todos terem uma opinião formada sobre determinados
assuntos, também parte do pressuposto que todas as opiniões emitidas pelos
indivíduos partem da composição da opinião pública. E por fim, o fato de os
mesmos assuntos serem falados a todos pressupõe um acordo sobre o mesmo.O termo
“opinião pública” continua sendo utilizado, mas a sua noção não está livre de
contendas entre os partidários de efeitos limitados e de superefeitos.
Existem
três hipóteses que admitem a percepção da opinião dos demais por parte dos
indivíduos. São elas: a “percepção do olho de vidro”, na qual muitas pessoas
afirmam que suas opiniões são as mesmas da maioria; a “projeção dissonante”, na
qual os indivíduos cedem as pressões sociais quando questionados sobre temas
nos quais a suas verdadeiras opiniões são distintas das opiniões majoritárias.
Mas essas hipóteses não fornecem a espiral uma explicação acabada.
Na
“espiral do silêncio” existem as fontes, as quais o estudioso Noelle-Neumann
atribui a mesma importância. Essas fontes são divididas em diretas, que propõe
a tendência ao silêncio, quando a opinião majoritária se difere da opinião
pessoal, e fontes indiretas, que destacam a importância da opinião pública nas
atitudes e comportamentos individuais. Para Noelle, o medo de isolamento é
comprovado. E para que esse isolamento possa ser evitado, é necessário que se
conheça a opinião dominante. Poucos indivíduos confiam em si quando são
confrontados com a opinião externa. No entanto, o medo do isolamento se
manifesta de maneira diferente em cada indivíduo, com isso entendemos que nem
sempre os indivíduos que possuem a opinião minoritária se calarão. Um dos
motivos para que isso aconteça, é a competência para abordar os temas em discussão.
Mesmo na discussão de assuntos políticos, além da opinião midiática, há a influência
da manifestação pública, e essa competência na abordagem do tema é um dos
motivos para que haja essa influência.
A
recepção dos meios de comunicação se dá de forma intensa em todos os níveis.
Mas, os indivíduos que ocupam os níveis socioeconômicos mais altos têm um
conhecimento e uma absorção das informações sempre superiores aos indivíduos de
níveis inferiores. Com isso, esses meios de comunicação são um dos responsáveis
da reprodução das desigualdades culturais. Essa é a hipótese do Knowledge Gap. Dessa forma, concluímos
que
“a hipótese da espiral do silêncio,
que imputa ao medo do isolamento a disposição para sustentar uma opinião em
público, também é tributária da competência específica do receptor, da posição
social que ocupa, do custo social próprio a tomada de posição discriminante e
da legitimidade social específica. ”
Larissa Becker
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